Ashley Madison: relembre o vazamento escandaloso de dados do site de traição (2024)

O site Ashley Madison, voltado para relacionamentos extraconjugais, se popularizou pela alta quantidade de usuários, um marketing ousado e a garantia de que manteria tudo no sigilo. O modelo de negócios deu certo, até que a plataforma foi invadida e dados dos clientes foram divulgados publicamente.

A situação do Ashley Madison foi tão caótica e inusitada que parecia um roteiro de cinema, mas aconteceu de verdade, em 2015. E agora é tema de uma série documental na Netflix.

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O incidente foi amplamente divulgado e teve algumas consequências trágicas, mas é um lembrete de como as informações digitais são frágeis e como a privacidade pode ser um conceito relativo na internet.

Site foi polêmico desde o lançamento

Ashley Madison é o nome de um site lançado em 2002 pelo empresário canadense Darren Morgenstern. Bem antes da popularização de redes sociais ou de apps como o Tinder, ele criou uma página que facilitava encontros fora do casamento.

Batizada com dois nomes populares em países de língua inglesa, a página permitia que usuários comprometidos criassem perfis para se conectar com pessoas solteiras dispostas a ser "amantes em potencial". A interface era praticamente a mesma de outros sites de juntar casais da época.

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Ashley Madison: relembre o vazamento escandaloso de dados do site de traição (1)A interface do site no celular.Fonte: Reprodução/Ashley Madison

A página levou alguns anos para se popularizar, mas por volta de 2007 apresentou um crescimento acelerado. Isso também significou um faturamento alto: quase todo o funcionamento do site para usuários homens dependia da compra de "créditos", usados para começar uma conversa ou manter um chat ao vivo aberto.

Além disso, o marketing do serviço era chamativo e picante de propósito. Ele operava sob o slogan "A vida é curta. Curta um caso" e chegou até a anunciar em TVs e outdoors nos EUA.

Ashley Madison: relembre o vazamento escandaloso de dados do site de traição (2)Um dos anúncios controversos do site.Fonte: NY Daily News

Por volta de 2015, o Ashley Madison estava presente oficialmente em 40 países e dizia ter mais de 37 milhões de usuários — mais de 1 milhão deles no Brasil, segundo a própria empresa.

Invasão e vazamento de dados

A popularidade e o tema polêmico despertaram o interesse não só do público, mas também do The Impact Team. Esse é o nome de um grupo ou indivíduo especialista em cibercrimes que conseguiu invadir a base de dados do Ashley Madison em julho de 2015.

Os invasores conseguiram extrair informações pessoais dos usuários, inclusive números de cartão de crédito e histórico de transações financeiras. Mas dados financeiros não eram as informações mais importantes na plataforma: a lista entregava também nomes e endereços de email das pessoas casadas e cadastradas no site.

Ashley Madison: relembre o vazamento escandaloso de dados do site de traição (3)A mensagem dos invasores aos administradores da página.Fonte: Krebs on Security

O The Impact Team liberou esses dados depois que a dona do Ashley Madison, a Avid Life Media, se recusou a tirar o site do ar — essa era a única condição do grupo para não soltar as informações.

Como resultado, milhões de pessoas foram expostas como adúlteras na internet, de cidadãos discretos até figuras públicas ou celebridades. A divulgação teria acabado com muitos relacionamentos, destruído a reputação de várias pessoas e há ao menos um caso de um homem que tirou a própria vida após ter o nome vazado.

O hack ainda detalhou práticas irregulares da gestão da empresa. Para começar, ela não apagava os dados de usuários que pagavam uma taxa extra para ter as informações deletadas dos servidores.

Ashley Madison: relembre o vazamento escandaloso de dados do site de traição (4)O site prometia sigilo aos usuários pagantes.Fonte: GettyImages

Além disso, abase de usuários era claramente inflada por bots e contas falsas. Até mesmo algumas das mulheres supostamente solteiras do site, na verdade, eram funcionários da página, que se passavam por outras pessoas nos chats online.

Até mesmo Noel Biderman, o CEO creditado como o responsável por alavancar o site, teve emails divulgados que mostravam várias práticas irregulares — incluindo a possível invasão aos servidores de um site rival.

Escândalo deixou lições para a indústria

A invasão e a divulgação dos dados do Ashley Madison marcaram uma época de poucos debates sobre cibersegurança fora da bolha de especialistas.

O incidente, porém, ajudou a levantar a discussão sobre a privacidade de dados em redes sociais e o risco de manter um cadastro em sites potencialmente danosos à imagem.

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Esses são alguns dos temas de Ashley Madison: Sexo, Mentiras e Escândalo, série documental em três episódios que estreou em maio de 2024 na Netflix e conta todo o caso.

E que fim levou a página? Atualmente,o Ashley Madison segue em funcionamento sob uma gestão nova e bem mais discreta, porém ainda alegando ter dezenas de milhões de usuários. Ele tentou relançar a plataforma três anos após o vazamento, mas não conseguiu recuperar a imagem.

Em 2017, a companhia conseguiu ainda um acordo judicial para pagar apenas US$ 11,2 milhões dos US$ 576 milhões originais do processo coletivo movido por usuários prejudicados. Nos tribunais, a empresa manteve o discurso de que não fez nada de errado.

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